HOMOSSEXUALIDADE E DEFICIÊNCIA FÍSICA: O
AMOR NA BERLINDA
Confesso que ao
iniciar a escrita desse texto me deparei com algumas situações pessoais que me
incomodaram profundamente; a primeira pelo fato de ser e viver a realidade de
um deficiente físico, a segunda por se tratar de um assunto que sempre gera
polêmica: o sexo, e a terceira, e mais importante, era a de manter a
impessoalidade durante todo o tempo de criação do mesmo. Decidi, pois, iniciar
fazendo leituras e pesquisas acerca do tema que gostaria de desenvolver e
começo fazendo uma citação que emoldura perfeitamente a situação: Os
deficientes físicos gays [masculinos] são uma minoria dentro da própria
minoria... Some o preconceito para com a homossexualidade ao preconceito para
com o deficiente físico. Agora, multiplique pelo que ele sofre dentro da
própria comunidade homossexual. Como suportar tanta hostilidade?
Bom, falar de minha
experiência pessoal como um cadeirante seria muito fácil, visto que depois de
uma década vivendo tal realidade, me soa natural falar e me apresentar como tal,
mesmo porque seria alienante não considerar esse aparelho de locomoção tão
emblemático, embora nesse período sempre busquei que o meu Eu chegasse antes da
cadeira, que minhas ideias, projetos, pensamentos, convicções, determinações e
desejos superassem a visão destrutiva e pessimista que a deficiência tende a
trazer consigo. Falar de homossexualidade/sexualidade na realidade da
deficiência também não seria fácil, afinal, a exposição pessoal, o retorno
desconhecido do leitor (a) e a busca em manter a impessoalidade na escrita
seriam quase impossíveis. Como vivemos em uma sociedade essencialmente cultuada
pelo corpo, pelo belo em oposição ao pensamento crítico e intelectual, a
sociedade/comunidade gay não o seria diferente, pelo contrário, neste segmento
o apelo ao corpo perfeito é algo fundamental, onde tal situação se dispõe de
forma quase agressiva à palavra, ao tom, ao discurso inteligente e necessário.
Quaisquer que sejam
as formações estruturais de uma sociedade as mesmas ainda apresentam a terrível
e dolorosa visão/concepção de que os deficientes físicos são seres assexuados,
negam aos mesmos que falem de si próprios com naturalidade, o que finda por
incutir dúvidas, incertezas, piedade, curiosidade, rejeição e outros tantos
sentimentos não revelados, pois como dizia Epícuro: O pensamento humano é um
eterno segredo irrevelável. Ora, se a sociedade heterossexual estabelece tal
situação, o que dizer da sociedade homossexual com relação aos gays
deficientes? Ela simplesmente os [nos] ignora, afinal, sempre fora mais fácil e
prático deixar o diferente, o indesejado, aquilo que não se compreende à
margem, ou seja, lava-se a mãos de um problema, como fez o célebre personagem
bíblico. Na sociedade homossexual masculina o culto ao corpo é óbvio, há uma
necessidade constante em se colocar o sexo, o fálico, o belo em um pedestal, e
um cadeirante não é exatamente um Deus grego da beleza, um Apolo em sua
constituição propriamente dita. Embora reconheça que existam deficientes
físicos belos fisicamente, mas como dito, na sociedade homossexual o culto ao
corpo perfeito é primaz, é regra, é algo que não permite mudanças, daí, a
citação logo no começo ter sido adotada. Na comunidade/sociedade gay ocorre,
portanto, uma forma de preconceito ainda mais maligna e perniciosa, qual seja:
o preconceito com os seus, com aqueles (as) que, por vezes, lutam juntos por um
mesmo ideal, então como explicar (se possível for) e aceitar tal situação?
Creio, nobres
Senhores e Senhoras, em minha modesta opinião, que tal situação vivenciada por seus
indivíduos está longe, Anos-Luz de distância de haver um consenso, um encaixe
harmonioso, pois aqueles que ditam as regras e normas a serem seguidas não
permitem [ainda] que se discuta o eixo temático: Homossexualidade e Deficiência
Física, me parece, de forma óbvia, que se tais temas forem desmembrados, ainda
podem ser discutíveis, mas em sua união: Jamais; é algo secreto, pernicioso, é
um assunto que vai além do profano, é inquestionável e indiscutível. À meu ver,
somente [nos] resta uma saída: trabalhar, estudar, trabalhar, estudar,
trabalhar, estudar, e sermos felizes, afinal se nossas duas sociedades (e seus
mandatários) nos julgaram e nos condenaram a vivermos como seres assexuados,
angelicais e livres do desejo carnal teremos o feliz e doce conforto de que na
grande passagem seremos os primeiros a serem recebidos na entrada do Grande
Paraíso Celestial.
Por Cléber Costa
15.11.2012
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