terça-feira, 29 de setembro de 2015

HOMOSSEXUALIDADE E DEFICIÊNCIA FÍSICA: O AMOR NA BERLINDA

Confesso que ao iniciar a escrita desse texto me deparei com algumas situações pessoais que me incomodaram profundamente; a primeira pelo fato de ser e viver a realidade de um deficiente físico, a segunda por se tratar de um assunto que sempre gera polêmica: o sexo, e a terceira, e mais importante, era a de manter a impessoalidade durante todo o tempo de criação do mesmo. Decidi, pois, iniciar fazendo leituras e pesquisas acerca do tema que gostaria de desenvolver e começo fazendo uma citação que emoldura perfeitamente a situação: Os deficientes físicos gays [masculinos] são uma minoria dentro da própria minoria... Some o preconceito para com a homossexualidade ao preconceito para com o deficiente físico. Agora, multiplique pelo que ele sofre dentro da própria comunidade homossexual. Como suportar tanta hostilidade?
Bom, falar de minha experiência pessoal como um cadeirante seria muito fácil, visto que depois de uma década vivendo tal realidade, me soa natural falar e me apresentar como tal, mesmo porque seria alienante não considerar esse aparelho de locomoção tão emblemático, embora nesse período sempre busquei que o meu Eu chegasse antes da cadeira, que minhas ideias, projetos, pensamentos, convicções, determinações e desejos superassem a visão destrutiva e pessimista que a deficiência tende a trazer consigo. Falar de homossexualidade/sexualidade na realidade da deficiência também não seria fácil, afinal, a exposição pessoal, o retorno desconhecido do leitor (a) e a busca em manter a impessoalidade na escrita seriam quase impossíveis. Como vivemos em uma sociedade essencialmente cultuada pelo corpo, pelo belo em oposição ao pensamento crítico e intelectual, a sociedade/comunidade gay não o seria diferente, pelo contrário, neste segmento o apelo ao corpo perfeito é algo fundamental, onde tal situação se dispõe de forma quase agressiva à palavra, ao tom, ao discurso inteligente e necessário.
Quaisquer que sejam as formações estruturais de uma sociedade as mesmas ainda apresentam a terrível e dolorosa visão/concepção de que os deficientes físicos são seres assexuados, negam aos mesmos que falem de si próprios com naturalidade, o que finda por incutir dúvidas, incertezas, piedade, curiosidade, rejeição e outros tantos sentimentos não revelados, pois como dizia Epícuro: O pensamento humano é um eterno segredo irrevelável. Ora, se a sociedade heterossexual estabelece tal situação, o que dizer da sociedade homossexual com relação aos gays deficientes? Ela simplesmente os [nos] ignora, afinal, sempre fora mais fácil e prático deixar o diferente, o indesejado, aquilo que não se compreende à margem, ou seja, lava-se a mãos de um problema, como fez o célebre personagem bíblico. Na sociedade homossexual masculina o culto ao corpo é óbvio, há uma necessidade constante em se colocar o sexo, o fálico, o belo em um pedestal, e um cadeirante não é exatamente um Deus grego da beleza, um Apolo em sua constituição propriamente dita. Embora reconheça que existam deficientes físicos belos fisicamente, mas como dito, na sociedade homossexual o culto ao corpo perfeito é primaz, é regra, é algo que não permite mudanças, daí, a citação logo no começo ter sido adotada. Na comunidade/sociedade gay ocorre, portanto, uma forma de preconceito ainda mais maligna e perniciosa, qual seja: o preconceito com os seus, com aqueles (as) que, por vezes, lutam juntos por um mesmo ideal, então como explicar (se possível for) e aceitar tal situação?  
Creio, nobres Senhores e Senhoras, em minha modesta opinião, que tal situação vivenciada por seus indivíduos está longe, Anos-Luz de distância de haver um consenso, um encaixe harmonioso, pois aqueles que ditam as regras e normas a serem seguidas não permitem [ainda] que se discuta o eixo temático: Homossexualidade e Deficiência Física, me parece, de forma óbvia, que se tais temas forem desmembrados, ainda podem ser discutíveis, mas em sua união: Jamais; é algo secreto, pernicioso, é um assunto que vai além do profano, é inquestionável e indiscutível. À meu ver, somente [nos] resta uma saída: trabalhar, estudar, trabalhar, estudar, trabalhar, estudar, e sermos felizes, afinal se nossas duas sociedades (e seus mandatários) nos julgaram e nos condenaram a vivermos como seres assexuados, angelicais e livres do desejo carnal teremos o feliz e doce conforto de que na grande passagem seremos os primeiros a serem recebidos na entrada do Grande Paraíso Celestial.
Por Cléber Costa

15.11.2012 

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