TER QUARENTA ANOS: UMA LIÇÃO ÚNICA
Sempre busquei
expressar através da minha escrita, mesmo quando puramente ficcional, o meu
viver, meus desejos, minhas insatisfações, enfim minha alma. E agora, prestes a
completar quatro décadas de vida realmente me encontro em um momento singular.
Inegavelmente completar quarenta anos para o homem é muito diferente daquilo
que a mulher vive e sente, por várias razões.
Conhecida
maliciosamente como "A Idade do Lobo", entendo que a crise
experienciada seria mais uma peça no processo descrito pelo psiquiatra suíço
Carl Jung como metanoia (palavra grega que significa "mudança") o que
se dá a partir da confrontação do indivíduo com o "envelhecer" e, por
conseguinte, com a ideia de ser finito. Porém, a prática, se apresenta bem mais
difícil. Depois dos quarenta anos, o homem se despe de seu traje de super-herói
e percebe que, afinal, é imortal. Sentimos, de forma crua e fria, que as
ambições que se tinha na juventude não foram realizadas e que a idade atual já
não nos permitir realizar algumas delas.
Ainda, alguns
especialistas nos expõem que nesta fase acontece uma reorientação da
sexualidade para pessoas mais jovens, como forma de negação de que já não se
tem tanta energia e não se é tão atraente como quando se é mais jovem, o que,
em parte (mesmo que mínima), concordo, é como se quiséssemos “absorver, nos
embebedar” das doces nuances que a mesma traz consigo.
Definitivamente nossa
cultura não nos preparou, para viver esta fase, e, portanto, chegar aos
quarenta anos sempre representa incertezas, temor da velhice e da solidão,
sensação de “estar só, em meio a tantos”, insatisfação com o presente e medo do
futuro, terror enlouquecedor de “falhar na hora H”, desejo de mudanças rápidas
e concretas e perspectivas maiores.
Então, especialmente
nesta fase, me apego enormemente ao belo e sábio texto “Viver sem Tempos
Mortos” de Simone de Beauvoir, que em um trecho diz: “O tempo é irrealizável/
Provisoriamente o tempo parou pra mim... Provisoriamente, mas eu não ignoro as
ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que
define a minha abertura para o futuro”. Portanto, é através da pequena parcela
de saber que adquiri ao longo destes anos e das esperanças construídas para o
futuro é que penso que fazer quarenta anos é antes de tudo, um deleite e um
enfado, e que tenho que vivenciá-lo da maneira mais sensata possível.
Por Cléber Costa
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