terça-feira, 29 de setembro de 2015

TER QUARENTA ANOS:  UMA LIÇÃO ÚNICA
Sempre busquei expressar através da minha escrita, mesmo quando puramente ficcional, o meu viver, meus desejos, minhas insatisfações, enfim minha alma. E agora, prestes a completar quatro décadas de vida realmente me encontro em um momento singular. Inegavelmente completar quarenta anos para o homem é muito diferente daquilo que a mulher vive e sente, por várias razões.
Conhecida maliciosamente como "A Idade do Lobo", entendo que a crise experienciada seria mais uma peça no processo descrito pelo psiquiatra suíço Carl Jung como metanoia (palavra grega que significa "mudança") o que se dá a partir da confrontação do indivíduo com o "envelhecer" e, por conseguinte, com a ideia de ser finito. Porém, a prática, se apresenta bem mais difícil. Depois dos quarenta anos, o homem se despe de seu traje de super-herói e percebe que, afinal, é imortal. Sentimos, de forma crua e fria, que as ambições que se tinha na juventude não foram realizadas e que a idade atual já não nos permitir realizar algumas delas.
Ainda, alguns especialistas nos expõem que nesta fase acontece uma reorientação da sexualidade para pessoas mais jovens, como forma de negação de que já não se tem tanta energia e não se é tão atraente como quando se é mais jovem, o que, em parte (mesmo que mínima), concordo, é como se quiséssemos “absorver, nos embebedar” das doces nuances que a mesma traz consigo.
Definitivamente nossa cultura não nos preparou, para viver esta fase, e, portanto, chegar aos quarenta anos sempre representa incertezas, temor da velhice e da solidão, sensação de “estar só, em meio a tantos”, insatisfação com o presente e medo do futuro, terror enlouquecedor de “falhar na hora H”, desejo de mudanças rápidas e concretas e perspectivas maiores.
Então, especialmente nesta fase, me apego enormemente ao belo e sábio texto “Viver sem Tempos Mortos” de Simone de Beauvoir, que em um trecho diz: “O tempo é irrealizável/ Provisoriamente o tempo parou pra mim... Provisoriamente, mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro”. Portanto, é através da pequena parcela de saber que adquiri ao longo destes anos e das esperanças construídas para o futuro é que penso que fazer quarenta anos é antes de tudo, um deleite e um enfado, e que tenho que vivenciá-lo da maneira mais sensata possível.

Por Cléber Costa
HOMOSSEXUALIDADE E DEFICIÊNCIA FÍSICA: O AMOR NA BERLINDA

Confesso que ao iniciar a escrita desse texto me deparei com algumas situações pessoais que me incomodaram profundamente; a primeira pelo fato de ser e viver a realidade de um deficiente físico, a segunda por se tratar de um assunto que sempre gera polêmica: o sexo, e a terceira, e mais importante, era a de manter a impessoalidade durante todo o tempo de criação do mesmo. Decidi, pois, iniciar fazendo leituras e pesquisas acerca do tema que gostaria de desenvolver e começo fazendo uma citação que emoldura perfeitamente a situação: Os deficientes físicos gays [masculinos] são uma minoria dentro da própria minoria... Some o preconceito para com a homossexualidade ao preconceito para com o deficiente físico. Agora, multiplique pelo que ele sofre dentro da própria comunidade homossexual. Como suportar tanta hostilidade?
Bom, falar de minha experiência pessoal como um cadeirante seria muito fácil, visto que depois de uma década vivendo tal realidade, me soa natural falar e me apresentar como tal, mesmo porque seria alienante não considerar esse aparelho de locomoção tão emblemático, embora nesse período sempre busquei que o meu Eu chegasse antes da cadeira, que minhas ideias, projetos, pensamentos, convicções, determinações e desejos superassem a visão destrutiva e pessimista que a deficiência tende a trazer consigo. Falar de homossexualidade/sexualidade na realidade da deficiência também não seria fácil, afinal, a exposição pessoal, o retorno desconhecido do leitor (a) e a busca em manter a impessoalidade na escrita seriam quase impossíveis. Como vivemos em uma sociedade essencialmente cultuada pelo corpo, pelo belo em oposição ao pensamento crítico e intelectual, a sociedade/comunidade gay não o seria diferente, pelo contrário, neste segmento o apelo ao corpo perfeito é algo fundamental, onde tal situação se dispõe de forma quase agressiva à palavra, ao tom, ao discurso inteligente e necessário.
Quaisquer que sejam as formações estruturais de uma sociedade as mesmas ainda apresentam a terrível e dolorosa visão/concepção de que os deficientes físicos são seres assexuados, negam aos mesmos que falem de si próprios com naturalidade, o que finda por incutir dúvidas, incertezas, piedade, curiosidade, rejeição e outros tantos sentimentos não revelados, pois como dizia Epícuro: O pensamento humano é um eterno segredo irrevelável. Ora, se a sociedade heterossexual estabelece tal situação, o que dizer da sociedade homossexual com relação aos gays deficientes? Ela simplesmente os [nos] ignora, afinal, sempre fora mais fácil e prático deixar o diferente, o indesejado, aquilo que não se compreende à margem, ou seja, lava-se a mãos de um problema, como fez o célebre personagem bíblico. Na sociedade homossexual masculina o culto ao corpo é óbvio, há uma necessidade constante em se colocar o sexo, o fálico, o belo em um pedestal, e um cadeirante não é exatamente um Deus grego da beleza, um Apolo em sua constituição propriamente dita. Embora reconheça que existam deficientes físicos belos fisicamente, mas como dito, na sociedade homossexual o culto ao corpo perfeito é primaz, é regra, é algo que não permite mudanças, daí, a citação logo no começo ter sido adotada. Na comunidade/sociedade gay ocorre, portanto, uma forma de preconceito ainda mais maligna e perniciosa, qual seja: o preconceito com os seus, com aqueles (as) que, por vezes, lutam juntos por um mesmo ideal, então como explicar (se possível for) e aceitar tal situação?  
Creio, nobres Senhores e Senhoras, em minha modesta opinião, que tal situação vivenciada por seus indivíduos está longe, Anos-Luz de distância de haver um consenso, um encaixe harmonioso, pois aqueles que ditam as regras e normas a serem seguidas não permitem [ainda] que se discuta o eixo temático: Homossexualidade e Deficiência Física, me parece, de forma óbvia, que se tais temas forem desmembrados, ainda podem ser discutíveis, mas em sua união: Jamais; é algo secreto, pernicioso, é um assunto que vai além do profano, é inquestionável e indiscutível. À meu ver, somente [nos] resta uma saída: trabalhar, estudar, trabalhar, estudar, trabalhar, estudar, e sermos felizes, afinal se nossas duas sociedades (e seus mandatários) nos julgaram e nos condenaram a vivermos como seres assexuados, angelicais e livres do desejo carnal teremos o feliz e doce conforto de que na grande passagem seremos os primeiros a serem recebidos na entrada do Grande Paraíso Celestial.
Por Cléber Costa

15.11.2012